Sempre que passo por aquela rua ainda tenho lembranças da melhor fase da minha vida, lembro como se fosse ontem dos momentos alegres em que me sentia completa, vivendo exatamente o que sempre quis viver, com quem sempre quis.
Parece que foi ontem, lembro-me de mim parada na frente daquele portão pensando "Espero que isso nunca acabe.", lembro de mim meses depois na frente do mesmo portão, com uma cortina de lágrimas sob os olhos sem acreditar que tudo tinha acabado.
Porque comigo? Porque acabou?
Fiquei por tanto tempo com isso em minha cabeça, tanto que ainda hoje eu passo por aquele mesmo portão e sinto um nó na garganta, e não porque isso não se curou, mas pelo medo de que tudo se repita. Mesmo assim, mesmo com toda a dor, eu aprendi, aprendi que vivemos pequenos infinitos. Pequenos momentos que acreditamos ser para sempre, que queremos para toda a eternidade, pessoas que são nosso universo, e a ideia de que isso pode virar pó, simplesmente traz aquele nó na garganta seguido de terror. Mas olha, tudo bem ter medo do fim, é isso que te torna humano. Os sábios são aqueles que transformam seu medo em atitudes para seguir seus desejos.
Os infinitos de cada dia devem ser valorizados, as expectativas que criamos em cima disso não devem ser menosprezada. Tudo bem criar expectativas, tudo bem se não der certo, tudo bem, você sabe lá no fundo, que isso tem valor, te traz aprendizado, te torna alguém mais preparado.
Ah como é bom estar dentro de um infinito onde o mundo pouco importa, as dores pouco importam, as semanas passam voando, e o tempo para em um abraço, sua vida toda cabe dentro daquele abraço, seu infinito pessoal é esquecido e por um momento, você não é mais você, você ganha o plural e vocês se sentem infinitos juntos.
Ah como dói a queda de um infinito, recolocar cada pedacinho em seu lugar, parar de sentir dor com cada lembrança, transformando-a em sentimentos de nostalgia e não mais em lágrimas.
Ninguém disse que seria fácil viajar ao infinito. Nem toda a nossa tecnologia é capaz de transitar pelo espaço sem um custo, então talvez, o custo de viver nesse infinito seja saber que ele pode acabar e é você que vai ter que colocar ordem na casa novamente.
Tudo bem se você depois de dois anos se ver na frente daquele mesmo portão, tudo bem mesmo se você chorar porque gostaria de voltar a viver aquilo. Tudo bem, mas olhe com carinho pra tudo que viveu e lembre-se, não inventaram maquina do tempo capaz de consertar um amor partido.
E esta tudo bem, você vai conseguir colocar tudo em ordem. O tempo anda de mãos dadas com o infinito, e esse senhor sim sabe como organizar uma casa e te mostrar que novos infinitos sempre vão chegar.
Saiba esperar, e enquanto isso, seja seu infinito.
É uma noite comum depois de um dia cansativo, você se deita em sua cama e agradece internamente por ter sobrevivido a mais um desses dias aos quais pela manhã, quase desistiu de sair da cama. Se sente abraçado por suas cobertas, seu travesseiro parece por um momento aliviar o peso de sua mente, e você se sente mergulhado em um aconchego que te aquece e te faz acreditar que vale a pena passar pela rotina, só pra ter um momento a sós com você e suas cobertas. Talvez você acrescente uma musica, ligue a tv e assista alguma bobagem, talvez você leia um livro, tome um chá, mas o mais importante é que esse momento é aquele que você pode simplesmente deixar o mundo porta a fora e por algumas horas colocar você mesmo como sua prioridade.
É numa dessas noites que as reflexões aparecem, você muitas vezes se sente só, pega o celular algumas centenas de vezes até perceber que ok, é você com você mesmo, hora de se agradar, mas sente falta de ter alguém perguntando sobre seu dia, compartilhando sobre aquele livro novo que você quer tanto, você sente falta de estar a sós com alguém.
E não é alguém do seu lado, é alguém do outro lado da tela do celular, do computador, alguém pra quem possa ligar e rir um pouco, alguém que como sua cama, te aconchega e te acalenta no fim do dia.
Talvez você chore ao perceber que está só, talvez você coloque uma musica e tente calar sua mente que deixou a rotina fora de casa, mas trouxe de dentro de você, coisas que te congelam lentamente, e as cobertas não aquecem por elas mesmas. Talvez então você procure consolo em tudo que te cerca em um momento de descontrole, coloque pra dentro metade da geladeira tentando tapar um buraco que existe só na sua mente, mas seu corpo sente como falta de algo que nunca se preenche, uma fome infinita, um sono que não acaba, um choro que não seca. Depois disso, você anda pelo seu quarto como se tantos passos fossem traçar o caminho para seus pensamentos, você se cansa após 45 minutos rodando com os olhos marejados, o reflexo no espelho te lembra que você não precisa aceitar isso, mas não sabe como prosseguir pra que seja diferente.
De onde vem esse sentimento de vazio? O que eu faço com isso? Como eu preencho a solidão?
Talvez seja com uma pessoa, se você é uma daquelas pessoas românticas como eu, que acredita que sim, alguém pode surgir e te dar um norte, talvez sejam com varias pessoas, assim como eu acredito, que os amigos te colocam os pés no chão e te levam pra viver loucuras, talvez seja com algumas doses de vodka pura, talvez você precise de tudo isso, ou talvez você só precise de si mesmo e aceitar.
Aceitar? Ninguém quer aceitar que está só, ninguém quer viver só, ninguém de fato esta só.
Talvez os filmes de Hollywood tenham colocado parâmetros surreais para sua vida, talvez chegar em casa no fim do dia não seja regado a um jantar a mesa de 20 lugares e um grande amor a sua espera, talvez você precise ver que na verdade, sua solidão é uma dádiva, porque quando olha com os olhos certos, lembra que tem aquela amiga que te liga semanalmente pra saber se está tudo bem, aquele amigo que briga com você porque você está tão ocupado trabalhando que não o responde, sua mãe ainda te chama pra almoçar na casa dela todos os domingos, e quando vai pra um pub, você raramente está só, se não está beijando, está com uma roda de pessoas que possivelmente se sentem tão só quanto você.
A noite é dos poetas, das putas e dos que morrem de amor, já dizia a famosa frase, mas eu diria que a noite é muito mais dos solitarios que se encontram, que de qualquer um, os solitarios que não estão sós, mas assim se sentem, porque perderam o olhar da vida para um filme americano.
Nós criamos muita de nossa solidão.
É numa destas noites que percebi que eu me sinto só e vazia, porque almejo algo surreal, quando olho pros lados percebo: eu não estou só.
Meu momento na cama é minha liberdade gritando comigo que eu não sei aproveitar meus momentos a sós, não gritando que estou sozinha.
E você, esta só, ou não sabe lidar com a liberdade de se sentir a sós?
Sempre que paro para observar as pessoas que cruzam meu caminho, ou mesmo aquelas que não me notam em algum canto observando seus olhares atentos e sorrisos perdidos, percebo o quanto a vida não é sobre os acertos.
A vida não é sobre acertar sempre, é sobre errar o caminho, ter que voltar ao inÃcio, é sobre se perder em meio a floresta cheia de perigos como a Chapeuzinho Vermelho e ter que correr muito, com medo e coração acelerado para compreender o que acabou de acontecer.
Sempre que me deparo com pessoas perdidas eu lembro desse caminho que todos nós precisamos percorrer pra chegar a algum lugar. Um lugar que ninguém de fato sabe onde é e se é real.
Mas a vida também não é sobre chegar a algo, é sobre olhar o caminho errado com novas perspectivas, é sobre uma montagem de lego onde dia a dia nos acrescentamos uma nova peça, um novo olhar, e assim nos tornamos um pouco mais nós mesmos.
A vida é sobre o erro de cair nas armadilhas que juramos nunca mais cair, aquela paixão maluca que ressurge depois de um coração partido, é sobre provar de novo aquela comida que não gostou, é sobre dar uma segunda chance a uma banda nova que a primeira vista parecia horrÃvel.
A vida não é sobre acertos, vivemos os momentos de euforia após um acerto com tamanha intensidade que logo após, nos esquecemos que a vida apesar das curvas, tem sua beleza também nas perdas, nos erros.
As lágrimas precisam ser valorizadas, o caminho precisa ser vivido, os acertos estão para nos lembrar que a vida tem um objetivo em sua totalidade, e que se vivêssemos o tempo todo nossos acertos, não treinarÃamos nossos olhos para apreciar a queda.
E a queda, o erro, tem sua beleza.
É depois dele que nós levantamos, amadurecemos, olhamos com mais atenção, aprendemos que certos erros não precisam se repetir, sem esquecer da importância dos mesmos acontecerem, acrescentando na alma o que não aprenderÃamos sem o joelho ralado e o álcool que arde na ferida para marcar que a queda foi necessária, o choro foi preciso, pois agora você consegue desviar dos buracos, sabendo que eles te ensinaram que a dor tem sua sabedoria.